sábado, 23 de junho de 2012

Santa Internet





No início deste ano, um rapaz de apenas 22 anos de idade surpreendeu o cenário da música mundial. Com uma sonoridade considerada “estranha”, misturando eletrônico e dubstep (gênero de música eletrônica inglesa), James Blake não só conquistou o público britânico, como foi indicado ao prestigiado prêmio da BBC, Som do Ano, no qual ficou em segundo lugar, atrás da aposta do pop Jessie J.

Mas o sucesso de público e de crítica – com shows recentes em Londres totalmente esgotados – começou mesmo com uma gravação caseira. O álbum de estreia, lançado com seu nome também neste ano, é idêntico ao que ele fez no quarto de casa há algum tempo, recusando, assim, a sugestão da gravadora de regravá-lo com a ajuda de produtores.

“Música é algo que eu venho realizando todos estes anos puramente por prazer pessoal”, comentou ele em entrevista em Londres. “Eu pensei em cada detalhe durante as gravações. Não queria saber se o álbum ficaria bom para tocar nas rádios”, confessou o britânico da cidade de Enfield, que começou a tocar piano com 6 anos de idade.

A obsessão de Blake pelo dubstep, gênero nascido no sul de Londres, foi também responsável por desbloquear a criatividade do jovem músico, que conheceu o gênero nas casas noturnas londrinas. “Antes, eu sentia que minha voz era produto de algo já ouvido por mim”, confessou ele. A solução para fazer algo diferente foi criar suas canções dubstep, utilizando um software em seu computador de casa, em vez de compor com um piano. “Eu queria fazer sons que eu nunca tivesse ouvido antes. No computador, eu podia cortar, estilizar e ter uma noção visual da composição, e esse processo foi perfeito para mim”, conta.

Quando a sonoridade incomum inesperadamente se tornou um sucesso nas estações de rádio, Blake se surpreendeu. “Adoro quando as pessoas me ligam para dizer: ‘Minha mãe adorou sua música’. Mas, quando eu fiz o álbum, pensava em tocá-lo em uma discoteca para um público. Eu não faço parte da comercialização do dubstep”, ressalta.

DO QUARTO PARA AS PARADAS
Com a tecnologia surgida nos últimos anos, produzir som de qualidade com poucos recursos é o tipo de tarefa que pode ser feito até em estúdios caseiros improvisados. Basta lembrar que o DJ americano Moby emplacou comercialmente várias faixas de álbuns gravados em casa, assim como o músico Daniel Bedingfield. Seu trabalho Gotta Get Thru This, de 2002, foi feito sem grandes pretensões em casa, utilizando o software de áudio Making Waves, e estourou logo depois. Outro exemplo conhecido dos brasileiros é Devendra Banhart, um texano que já realizou parcerias com Caetano Veloso e abriu shows de Gilberto Gil. O músico teve grande êxito gravando alguns de seus trabalhos mais importantes na própria residência.

Da lista de “gravações caseiras”, não se pode esquecer o caso de Adam Young, o americano de 24 anos também conhecido como Owl City. Seu álbum Ocean Eyes foi lançado em 2009 e se tornou grande sucesso com o single Fireflies, alcançando o topo das paradas no iTunes. Ironicamente, o som pop, animado e colorido do disco é resultado das noites de insônia de Adam, tempos em que o rapaz gravava solitariamente no porão da casa de seus pais. “Eu sou o exemplo de que coisas inacreditáveis podem acontecer”, comentou o jovem em entrevista recente.



O acordo com uma grande gravadora veio após o sucesso no site MySpace iTunes, nos quais Adam postava e vendia, de modo independente, cerca de duas mil faixas por semana. Vale saber que seu primeiro álbum, Maybe I’m Dreaming, de 2008, alcançou as paradas eletrônicas nos EUA sem nenhum tipo de marketing ou apoio.

Sobre o sucesso de Ocean Eyes e do single Fireflies, Young confessou: “Eu acho que estava no lugar certo, na hora certa. Acredito que se você está criando o tipo de música que você quer ouvir, você está fazendo a melhor coisa. Tem que satisfazer primeiro a você antes de qualquer um”.

Nas tais gravações no porão, o norte-americano trabalhava os vocais, teclado, piano, sintetizadores, guitarras e percussão, além de compor todas as canções. “Depois do trabalho, eu corria para casa, nem comia ou tomava banho, para poder voltar ao computador rapidamente, com medo de perder a inspiração que eu tinha tido antes. Gravar tudo por conta própria me forçou a ser um cara técnico. Eu tive que criar meu próprio estilo de fazer as coisas”, conta ele, que, após rodar o mundo apresentando sua música, também mudou de casa, agora equipada com um superestúdio, do qual saiu o novo álbum All Things Bright and Beautiful.

Outra prova de que a música e a tecnologia andam cada vez mais juntas é o que vem sendo realizado por bandas já de renome. Damon Albarn, do Gorillaz, por exemplo, produziu o novo álbum do grupo utilizando inteiramente a ajuda do iPad. Em contrapartida, os veteranos Foo Fighters decidiram voltar ao básico. Eles revelaram recentemente que o último álbum Wasting Light foi gravado na casa do vocalista Dave Grohl – algo já experimentado em 1999.

SANTA INTERNET
A ajuda do poder do marketing de grandes gravadoras prova-se ainda fundamental para tornar um artista amplamente conhecido e comercialmente viável. “Você não consegue vender mais que 100 mil álbuns sem tocar no rádio”, salienta Steve Bursky, empresário de Adam Young (Owl City). Mas é inegável que o sucesso de gravações caseiras está certamente ligado à força de promoção da internet, que, com websitescomo MySpace, se tornou indispensável para ajudar novos artistas a lançar seus materiais.

site de relacionamentos foi responsável pelo sucesso comercial de muitos nomes hoje já estabelecidos. Bandas como a britânica Arctic Monkeys ou a norte-americana OneRepublic tiveram sua grande chance de aparecer para o público após disponibilizarem músicas e demos emsites.


 No auge no ano de 2006 e em declínio desde 2008 com a avalanche provocada pelo Facebook, o MySpace não perdeu, todavia, o status de ferramenta essencial de marketing para músicos independentes. No Brasil, os exemplos mais conhecidos de grupos que pintaram por essas ondas cibernéticas incluem o Cansei de Ser Sexy, Móveis Coloniais de Acaju e, recentemente, a jovem cantora Mallu Magalhães, que, em 2007, com apenas 15 anos, conseguiu atrair algumas centenas de milhares de visitantes para sua página com uma espécie de música “antifolk”. Mas é claro que existem os do contra, como é o caso do quarteto londrino Tribes. Embora seja comprovada a eficácia de promoção trazida pelo site, eles não querem nem saber. “Ter mil amigos no seu perfil não quer dizer que seus shows ficarão lotados.”

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