segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A MODA - Georg Simmel


 

 

                                                                                                      Foto ilustrativa - s/autoria

(Berlim, 1 de Março de 1858 — Estrasburgo, 28 de Setembro de 1918)

O texto "A moda" ("Die Mode"), de Georg Simmel (Berlim, 1858 - Strasbourg, 1918), foi publicado, pela primeira vez, em Philosophische Kultur (Cultura Filosófica). Leipzig, Kröner, 1911.

 
 

" (...)
Mas em relação a esse caráter, a moda mostra agora a particularidade mais notável, a de
que, de certa maneira, cada moda singular aparece como se quisesse viver para sempre. Quem compra hoje uma mobília que deve durar um quarto de século escolhe sempre a da última moda e não leva em consideração aquela que já tem dois anos. E um par de anos depois, abertamente, o atrativo da moda terá deixado esses móveis da mesma maneira que havia deixado os anteriores, e gostar ou não de ambas as formas passa a ser decidido por critérios de outros tipos, de natureza objetiva. Uma variação desse motivo se mostra de maneira particular nos conteúdos singulares da moda. Claro que à moda só interessa a mudança; mas, como todas as configurações, ela tem uma tendência à economia de energia, ela busca seu objetivo da maneira mais pura possível, mas, não obstante, com os meios relativamente mais econômicos. Eis porque ela se volta – o que é particularmente claro no caso da moda no vestuário – sempre para as formas anteriores, de modo que se pode comparar seu caminho diretamente com a trajetória de um círculo. Tão logo uma moda mais antiga desaparece da memória, não há nenhuma razão para não reativá-la e, talvez, para deixar de sentir a atração da diferença, da qual ela vive, em relação a esse conteúdo que, por sua vez, por sua aparição, tira essa mesma atração de sua oposição à moda anterior e agora novamente reanimada. De resto, o poder da forma cinética de que vive a moda não vai tão longe a ponto de submeter cada conteúdo a si mesma igualmente. Mesmo nos domínios controlados por ela, nem todas as formas são adequadas a virar moda. Em muitas, sua essência peculiar oferece uma certa resistência. Isso se compara às possibilidades desiguais que têm os objetos do mundo aparente de tomar a forma de uma obra de arte. A idéia de que qualquer objeto da realidade seja igualmente apto a se tornar uma obra de arte é bastante sedutora, mas pouco profunda e difícil de sustentar. As formas da arte, tal como as vimos emergir historicamente, determinadas por milhares de acasos, muitas vezes unilateralmente ligadas a aperfeiçoamentos ou imperfeições técnicas, não estão de modo algum em uma altura imparcial, para além de todos os conteúdos da realidade; ao contrário, elas têm uma relação mais estreita com uns do que com outros, muitos se adaptam facilmente a ela, como se estivessem naturalmente destinados a ela, enquanto outros se subtraem obstinadamente, como se fossem, por natureza, orientados de maneira diversa à recomposição nas formas artísticas dadas. A soberania da arte em relação à realidade não significa de modo algum, como acredita o naturalismo e muitas teorias do idealismo, a capacidade de extrair todos os conteúdos da existência de seu próprio âmbito. Nenhuma das formações com as quais o espírito humano controla a matéria da existência, dando a ela uma forma segundo seus objetivos, é tão geral e neutra a ponto de todos os conteúdos, independente de suas estruturas específicas, se ajustarem a elas igualmente. Assim, a moda pode aparentemente e in abstracto, sem dúvida, acolher qualquer conteúdo: qualquer forma de vestuário, de arte, de comportamento ou de opinião pode virar moda. E há, no entanto, na essência de muitas formas uma disposição especial para viver como moda, enquanto muitas outras mantêm internamente uma resistência a ela... "
 

 
 

 

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