terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A cidade precisa nos ensinar a percorrê-la

Por Natália Garcia


"Eu já passei por Copenhague, Amsterdam, Londres e Paris e agora estou em Lyon. Em todas essas cidades notei algo em comum entre as pessoas: quase todos sabem se estão indo pro norte, sul, leste ou oeste, se localizam bem em mapas e sempre pensam por alguns minutos para decidir qual a melhor opção para se locomover de um ponto a outro da cidade.
O jeito dos moradores dessas cidades de se relacionar com o espaço público era bem diferente da experiência que eu tinha quando eu me locomovia de carro em São Paulo. De carro não tem muita escolha. Há duas ou três avenidas que te levam até onde você precisa ir. O máximo que você decide é que música vai ouvir ao longo do caminho. E pode se preparar porque a possibilidade de precisar ouvir o CD mais de uma vez é grande.
O uso excessivo de carros faz com que a gente não saiba onde está o Norte da cidade. E desconhecer a direção do Norte significa que você não sabe como navegar pelo espaço. Em São Paulo, por exemplo, quem anda muito de carro sabe quais avenidas precisa pegar para chegar onde precisa. Mas perde facilmente o senso de direção se precisar improvisar no meio do caminho. Não é à toa que tanta gente possui GPS dentro do carro.
Logo que eu cheguei em Londres, eu reparei que a cada cinco minutos caminhando eu encontrava um mapa da cidade me mostrando todas as ruas que estavam por perto, num raio de meio quilômetro, em que direção estava o norte e em que direção estavam os principais bairros. Essa foi a minha plataforma de navegação pela cidade sempre que caminhei à pé por lá."


mapa de Londres para pedestres
Também em Londres e em Copenhague, todos os pontos de ônibus possuíam um mapa mostrando o itinerário e um quadro de horários de passagem dos coletivos.


mapa e horário dos ônibus em Copenhague
Em Paris, além de mapas da cidade parecidos com o de Londres haviam placas espalhadas com explicações sobre fatos históricos da cidade ligados àquela região.



Placa informativa sobre a história de Paris
Em Londres e Paris, em cada ponto de retirada das bicicletas públicas de aluguel há também um mapa da cidade com os pontos de devolução mais próximos. Em Paris, na região central, há mapas que mostram todas as fontes públicas 

ponto de aluguel de bicicletas em Londres










ponto de aluguel de bicicletas em Londres
"Todas essas ferramentas me ensinaram a navegar nessas cidades. Me mostravam todas as opções que eu tinha para percorrer o espaço público de um ponto a outro. São Paulo nunca me ensinou a percorrê-la. As placas da cidade, como na maioria das metrópoles brasileiras, só servem aos motoristas. Os pontos de ônibus muitas vezes são um pedaço de madeira fixado no chão e eu não faço a menor ideia de para onde o ônibus que passar lá vai me levar. Sem ferramentas fica difícil explorar a cidade e ela vira apenas um enorme campo de passagem entre casa e trabalho. Ensinar as pessoas a navegar pela cidade de outras formas talvez estabeleça relações mais interessantes entre pessoas e cidades e entre pessoas e pessoas. E talvez seja possível descobrir que há outras formas de se locomover: mais agradáveis, mais saudáveis e, muitas vezes, mais rápidas."

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